House of Cards | 3x06 "Chapter 32" - "We're murderers, Francis."
Existem episódios fracos, episódios aceitáveis, aqueles que uma pessoa ama e venera e depois existem aqueles episódios que pegam no volante a meio de uma temporada e lhe mudam o rumo. House of Cards nunca será o mesmo depois de Chapter 32.
Este episódio foi algo enclausurado no que toca à interação entre personagens. O Presidente e a Primeira Dama dos Estados Unidos viajaram até Moscovo para negociações com o Presidente Petrov, mas logo desde início Claire é separada do seu marido, enfiando-se na cela de Corrigan, enquanto Frank discute acordos na Sala Oval russa com Petrov.
As negociações entre os Presidentes levam horas, incidindo no Vale no Jordão, na desmilitarização americana na Europa e na libertação de Corrigan. Este último ponto, está à responsabilidade da Primeira-Dama – e a chave para fechar todos estes acordos, já que Petrov deixa bem claro que se Corrigan não discursar, não haverá Vale do Jordão para ninguém.
Não é à toa que os animais políticos Underwood chegaram aonde chegaram. Claire coloca as suas habilidades em prática através de vários discursos do good cop/bad cop, ora amenizando, ora agravando a voz, tentando convencer Corrigan a ler o discurso já fabricado, em que pede publicamente desculpas pelo desrespeito às leis russas e agradece a Petrov. Feito isto, bastava embarcar no Air Force One e regressar a casa. Mas Corrigan é um homem das suas confianças e ele compreende o poder das palavras (Claire atira-lhe várias vezes à cara que ele é um político) – apesar de apenas palavras, uma vez ditas, mesmo que retiradas mais tarde, já muito impacto causaram.
Christian Camargo (ator que interpreta Michael Corrigan) dá vida a uma personagem degradada pelo aprisionamento, mas ao mesmo tempo com a mesma intensidade que o fez viajar até Moscovo para lutar pelos direitos da comunidade homossexual na Rússia. Quando damos por ela, é Claire quem está a ser levada pelo seu discurso. O impressionante diálogo dos dois leva Claire a questionar-se acerca do correto, sobre a importância daquilo pelo qual ela luta.
No final das contas, depois de Petrov ser persuadido a deixar Frank discursar invés de Michael, ele é encontrado morto na sua cela, pendurado nas grades pelo écharpe da Primeira Dama dos Estados Unidos, que dormia enquanto o prisioneiro pensava nas suas propostas.
Até agora, Frank e Claire já ultrapassaram vários obstáculos, esconderam pedras, pontapearam outras; de uma forma geral, sempre estiveram unidos nas suas decisões. Eles são mais do que um casal, mais do que sequer o Presidente e a Embaixadora – eles são uma equipa, sedenta de poder, pronta a esmagar quem se enfiar no seu caminho. Mas no início de temporada, Frank demonstrou poder ser amolecido. Agora foi a vez de Claire. Durante o discurso público estava presente Frank, a sua esposa e o Presidente russo. Claire deu o discurso escrito, sem sal, a lamentar a morte não fundamentada de Corrigan. Mas quando é suposto a Embaixadora sair do tempo de antena, ela para e desbobina tudo o que lhe vai na cabeça: ela sabe, sim, a razão do suicídio de Corrigan; ela sabe que ele morreu porque não queria mentir; ela sabe que, se não fosse pelas leis russas, ele ainda estaria vivo. E culmina o discurso de olhos postos em Petrov, à frente do mundo, e com as palavras “Shame on you, Mr. President”.
A conversa entre o casal, de volta a casa, não foi algo que já tenhamos visto. Toda a tarde de Underwood com Petrov foi por água abaixo. Frank está genuinamente irritado com Claire. Interessante como das outras vezes o Presidente direciona a sua raiva para a situação, confortando a esposa. Desta vez, ele não tem trabalho com redireccionamentos. Frank não consegue compreender como é que Claire foi capaz de deitar meses de trabalho ao ar, tão facilmente. A esposa argumenta que ela tinha de fazer aquilo, caso contrário a morte de Corrigan teria sido em vão, depois de tanta coragem. Então Frank fala sobre a coragem que é precisa para manter a boca calada, não interessando o que estamos a sentir. “I should have never made you ambassador.” “I should have never made you President.”
Noutro universo paralelo, Galvin é manipulador profissional que continua na busca por Rachel, enquanto faz o seu teatro digno de Óscar para Lisa. Acho que o facto de ele ser um hacker profissional, a serviço do Governo há já muito tempo, o que leva a pouco contacto social, e consiga tão naturalmente fingir expressões humanas tão intensas e conseguir socializar com pessoas desta forma tão natural. Não parece encaixar.
Daqui para a frente é de esperar uma Claire com uma postura mais moral nos assuntos políticos – quem sabe, talvez, ao ponto de sabotar o trabalho do marido. E isto gera a questão: até que ponto estará Underwood disposto a aceitar esta revolução por parte da esposa. O seu caráter implacável poderá levá-lo até que ponto? Existem seis episódios que nos trarão mais sobre esta guerra doméstica que se avizinha.
#APSPortugal
#HouseofCards
Autor: APS Portugal
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